RR Raquel Ribeiro*
(crédito: Wadyana Coelho/Divulgação)
Entusiastas de peças com um toque de “antiguinho”, assim como de criações originais, caem de amores pela decoração vintage. Contudo, o estilo popularizado nas décadas de 1920 a 1970 não está guardado apenas no imaginário de um seleto grupo. Pelo caráter atemporal, o vintage continua atraindo seguidores e sendo incorporado à decoração de ambientes modernos.
Roberta Iervolino, da Figa Arquitetura, justifica essa fama pela familiaridade do estilo com qualquer etapa da vida. “Eu acredito que o vintage continua popular, pelo fato de ser algo aconchegante e atemporal. É um estilo que combina com qualquer fase e que demora mais para enjoar”.
Cozinha moderna com elementos vintages projetada pela Figa Arquitetura (foto: Thiago Travesso)
Para a designer de interiores Lucyana Villela, o período de isolamento social contribuiu para a consolidação do estilo vintage como atual, graças ao reconhecimento da importância de uma decoração personalizada. “O ano de 2020 foi um ano em que ficamos muito em casa e, com isso, conseguimos olhar melhor para o que temos, perceber o que era mais necessário e mudar a decoração. Acho que cada vez mais as pessoas estão tentando resgatar aquela memória afetiva, o aconchego da sua casa e mesclar a época que se foi ao tempo atual”, aponta.
Ela acrescenta que o estilo continuará sendo uma tendência, passada de avós e pais para netos e filhos, pela recordação de família e caráter histórico que carrega. “Os móveis também fazem parte da nossa história. Não tem como abandonar um móvel que passou por várias gerações, ou que remete a alguma lembrança da infância, pois ele cria um vínculo afetivo. Até mesmo as pessoas que não tiveram nenhum contato se sentem atraídas por esse significado”.
Vintage x retrô
O próprio sentido da palavra vintage — derivada de “colheita de uva” — remete à ideia de “quanto mais antigo, melhor”. O fato de que as uvas precisam ser colhidas depois de um tempo para que o vinho tenha qualidade faz alusão a isso. Assim como as uvas, quanto mais antigo o objeto, mais significativo.
Cabe também diferenciar os termos vintage e retrô, muitas vezes utilizados como sinônimos. De acordo com a designer de interiores, Alini Jobim, as expressões possuem conotações distintas. “Peças vintages são antigas e originais, fabricadas no período de 1920 a 1960, que não têm nenhuma adaptação ou alteração e respeitam o estilo do período. Já as peças retrô são peças novas que imitam o estilo da época”, define.
Aparador com objetos antigos projetado pela designer de interiores Alini Jobim (foto: Arquivo Pessoal)
Lucyana Vilela acredita que o vintage é um estilo rico, formado por expressões de vários artistas, enquanto o retrô é uma releitura do passado. “O retrô usa o vintage como uma inspiração para trabalhar esse estilo do passado com uma cara nova”, complementa.
Mistura de estilos
Na hora de decorar um espaço, o contraste de estilos é muito bem-vindo. “Quando a gente tem uma casa com um estilo só, fica monótono. Já, quando você mistura estilos e, nessa mistura, você vem com a sua personalidade, sua história e suas vivências, você cria um cenário que conta uma história. Quando as coisas contam uma história, ficam mais interessantes”, esclarece Lucyana.
Em relação à combinação do vintage com o moderno, a dica da decoradora é casar um móvel moderno com uma peça antiga. “Você pode colocar um sofá minimalista com um hacker antigo, combinar um estilo industrial com quadros vintages ou, até, uma marcenaria minimalista branca com puxadores envelhecidos”, orienta. “São vários elementos que, unidos ao moderno, trazem personalidade. É essa mistura de estilos que traz um movimento e faz com que a decoração seja diferenciada”.
Garimpar em feiras de antiguidades é uma boa maneira de adquirir elementos com histórias impressas. Estabelecimentos como a loja Memoriato, da designer Lucyana, também podem ser fontes de relíquias. A loja de restauração e mobiliários antigos surgiu do amadurecimento do ateliê Passado Colorido, focado na pintura de móveis.
Área externa moderna com móveis vintages (foto: Wadyana Coelho/Divulgação)
Com a percepção de que os clientes queriam manter a memória das mobílias, ela decidiu criar uma loja, prevista para ser inaugurada em fevereiro deste ano, focada na missão de preservação. “Trabalhamos com esse respeito à memória e ao valor afetivo que as pessoas têm com os móveis. Queremos inspirá-las a reutilizar os móveis e a entender que eles não precisam ser jogados fora”, conta.
Ela ainda enfatiza que a restauração é uma prática sustentável, pois poupa a derrubada de árvores e o gasto de energia e água. Além disso, a obtenção de uma peça única, feita de um material que não se fabrica mais, é um ganho à parte.
Como a decoração vintage é trabalhada na riqueza de detalhes, ao se pensar em compor espaços, investir em adornos e peças antigas e diferentes, pode proporcionar um afago aos olhos. “Eu acho que não é tão legal fazer uma decoração inteira vintage. Mas usar alguns elementos nesse estilo confere uma bossa para o ambiente, dá aquele toque especial, pois é uma decoração mais adornada, que deixa o local mais descolado e traz lembranças”, recomenda a arquiteta Roberta Iervolino.
Decoração com significado
Embora a inserção de peças vintages em decorações contemporâneas seja uma boa aposta para dar aquela valorizada na decoração, a designer Alini Jobim ressalta que cuidados devem ser tomados. “Se você tem uma decoração contemporânea, você não vai encher o ambiente com peças vintages, pois, como elas são pontos focais, você tira um pouquinho do peso visual dos demais elementos. Por isso, é interessante você ter menos peças para dar mais destaque”.
Copa projetada pela Figa Arquitetura (foto: Thiago Travesso)
Outra orientação, ainda mais importante, segundo a perspectiva da designer, é procurar cultivar uma conexão com a peça vintage, pois ela possui um DNA carregado de conceito e significado. “Aquilo tem que ter um significado para você, senão vai ter meramente um caráter estético, podendo se tornar vazio de sentido. É importante se relacionar com aquela decoração, e, como consequência, com a sua casa”, aconselha.
Quando ela fala em conexão, não está se referindo apenas a uma ligação em razão do objeto ser herdado da família e ser carregado de lembranças nostálgicas. O simples conhecimento da história daquela peça, ou até mesmo, do contexto em que foi adquirido, já é suficiente para atribuir sentido. “Essa ligação não precisa ser da peça com você. Eu posso, por exemplo, fazer uma viagem importante, visitar um antiquário e adquirir uma peça que achei bonita. Ela passa a ter uma história do contexto em que foi adquirida”.
Tendência vintage para 2021
A decoradora Lucyana Vilela compartilha elementos que vão habitar a cena moderna durante o ano. São eles:
1 – Tetos coloridos em tons mais fechados
2 – Estofados para cabeceiras e móveis em gomos
3 – Boiserie
4 – Ladrilho hidráulico em móveis e painéis
5 – Arco pintado na parede
6 – Vitrola e discos antigos
7 – Camas de ferro antigas
8 – Piso de mosaico
9 – Carrinho de chá
10 – Pé palito em móveis e objetos
*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira
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